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segunda-feira, 19 de julho de 2010

NOTÍCIA: Os muitos destinos do muco de escargot

Pesquisadores da USP desenvolvem antibacteriano com base na substância e já estudam novas utilidades, como a produção de perfumes

Bruna Bessi, iG São Paulo | 18/07/2010 05:45

Fonte: http://economia.ig.com.br/inovacao/os+muitos+destinos+do+muco+de+escargot/n1237721212937.html

Em 2000, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) iniciaram estudos sobre a Achatina spp, uma das espécies do escargot. Durante as experiências, um pesquisador feriu-se. Os profissionais aproveitaram o incidente para testar a capacidade de cicatrização do muco do animal, passando-o em parte do ferimento e obtendo bons resultados. Neste ano, uma década depois do ocorrido, em uma nova pesquisa, Maria de Fátima Martins, coordenadora do estudo, aplicou o muco nas mamas das vacas antes e depois da ordenha. A constatação foi de que, além de cicatrizante, a substância também elimina agentes infecciosos e é hidratante, já que contém alantoína, uma proteína regeneradora de células da pele. Pode parecer estranho e até mesmo causar repulsa, mas há muita utilidade no muco do escargot.















Foto: Getty Images

No exterior, o muco de escargot já é utilizado para fins como a produção de xaropes

O estudo atual, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi realizado pelo veterinário Eugênio Yokoya e coordenado pela pesquisadora. Como o muco estudado consegue combater principalmente as bactérias dos gêneros Micrococcus sp e Staphylococcus sp, principais causadoras da doença denominada mastite (inflamação na glândula mamária), houve a decisão de aplicá-lo nas mamas das vacas.

A mastite é geralmente causada pela infecção de diversos microrganismos, sendo as bactérias os principais agentes. É a doença que mais atinge os rebanhos leiteiros em todo o mundo, acarretando prejuízos econômicos. “Nas grandes propriedades, as perdas com uma vaca doente chegam a 4,8 mil litros de leite ao mês. É um grande desperdício para o pecuarista”, diz Maria de Fátima. “O tratamento para a doença é caro, gera resistência no organismo do animal e pode afetar a qualidade do leite já que os medicamentos não são ideais”.
Eliminar os agentes infecciosos nos aparelhos utilizados na produção do leite e na própria ordenha é normalmente realizado com iodo. Cerca de 90% dos pecuaristas que adotam a ordenha manual o utilizam na higienização das mamas das vacas. O asséptico tem, no entanto, desvantagens: ele causa desidratação nas mãos dos ordenhadores e não consegue impedir totalmente a proliferação de agentes infecciosos. Durante a pesquisa foi descoberto que o muco é tão bom quanto o asséptico tradicional e ainda elimina a bactéria acinetobacter junii, que afeta diretamente a glândula mamária do animal.
Para utilizar o muco do escargot foi preciso transformá-lo em pó e depois, por meio de uma solução salina, em líquido. Isso facilita o uso e garante a dosagem correta a ser aplicada. “São usados 50 ml da substância antes e a mesma quantidade depois da ordenha, por isso é necessário que haja precisão”, diz a pesquisadora.

De xaropes a perfumes

O escargot é um caracol herbívoro terrestre, muito usado na culinária por ter algumas espécies comestíveis. Para se locomover, ele utiliza o muco, um líquido viscoso produzido naturalmente por uma glândula localizada em seus pés. Essa substância já é usada em países como a França - em que há um xarope indicado para bronquite e outras complicações pulmonares -, o Chile - que a utiliza no ramo dos cosméticos como um creme regenerador - e o Japão, que desenvolve aplicações medicinais com as substâncias retiradas do molusco.
Na pesquisa brasileira, testes de toxicidade demonstraram que a substância extraída do molusco não afeta o leite e a assepcia é garantida a cada ordenha. Há outras vantagens no muco. A pesquisadora já tem planos de usá-lo na linha de cosméticos e na área odontológica, já que foram bons os resultados obtidos quanto à capacidade de higienização.


















Foto: Divulgação

Extração do muco do escargot

Apesar dos bons resultados ainda não há possibilidade de comercializar o muco. O grande problema é conseguir o recolhimento eficiente da substância sem matar o animal. Segundo a pesquisadora, o tempo necessário para extração do muco depende da prática do profissional e também da espécie de escargot. “Nesta pesquisa gastamos em média de dez a 15 minutos por molusco. É preciso melhorar a técnica ou estudar uma maneira de sintetizar o produto em laboratório”, afirma Maria de Fátima.

Mercado leiteiro

Segundo pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade da produção de leite no País é realizada pela indústria. Em 2008, o índice de leite industrializado foi de 69,92%. Baseado nessas estatísticas, a Associação Brasileira dos Produtores de Leite acredita que no ano passado 29% do leite produzido no País foi comercializado in natura.
Apesar de o Brasil ter grandes produtores de leite, o País ainda sofre comercialmente com os subsídios internacionais. “Nós ainda temos um custo alto para produzir o leite, já que os países ricos subsidiam seu produto e dificulta a concorrência. O Brasil cresce 5% ao ano na produção leiteira, mas ainda não há mercado compatível”, afirma Jorge Rubez, presidente da associação.

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